Os últimos dias da viagem haviam sido ótimos. Istambul, em pouco tempo, conquistou meu coração de viajante e, devido às suas particularidades e exotismo, havia se tornado meu destino preferido. Eu já nem lembrava mais que durante o planejamento cheguei a questionar se deveria ou não visitá-la, pois tinha receio do que poderia encontrar na, até então, desconhecida Turquia.
Portanto, metade de mim estava deixando a cidade com a tristeza de quem sai de casa sem saber quando e se um dia irá voltar. A outra metade estava feliz por ter conquistado mais um objetivo e por estar dando continuidade à jornada com um sentimento de dever cumprido.
Um dia antes, eu havia passado na estação para comprar a passagem até Bucareste, pois sabia que meu passe de trem não tinha cobertura para alguns trechos. No guichê, informei o destino final apresentando meu Eurail Global Pass. A atendente o examinou, me deu preço e eu paguei pela passagem complementar.
Na hora do embarque, me despedi de Carlijn, Evan e Jitske que fizeram questão de me acompanhar até a estação e entrei no trem que me carregaria pelas próximas 19 horas – saindo da Turquia, atravessando toda a Bulgária e chegando na Romênia.
A viagem teve um mau começo. Na mesma cabine, que era para seis pessoas, só havia um senhor – até aí tudo bem. Um senhor que fumava um cigarro atrás do outro, e não era um cigarro comum, era uma espécie de palheiro – forte e fedorento. Pra piorar ele fechava a porta, e eu suspeitei que era por causa da fiscalização. Mas bastava ele acender o cigarro que eu a abria novamente. E esse ritual foi repetido várias vezes.
O pessoal do trem entrou por várias vezes na cabine para abordá-lo e parecia que o motivo envolvia dinheiro. Não tenho certeza se ele não tinha passagem ou era outro motivo. Em uma das abordagens chegaram a, inclusive, revistar sua mala. Eu, desconfiado, viajava com a mochila em cima da cama, aos meus pés. E nessa noite em especial, cheguei a amarrá-la, passando as tiras em volta da minha perna. Eu já tinha lido vários relatos de furtos em trens noturnos e não queria dar a menor chance pro azar.
Durante a madrugada, o balançar do trem não era nada em face ao cheiro horrível do palheiro que não me deixava dormir. A solução que encontrei foi me cobrir inteiro com o lençol até a cabeça para que a fumaça e o cheiro não entrassem pelas minhas narinas. Funcionou.
Quando, enfim, consegui dormir o trem parou. Estávamos na fronteira. Tive que desembarcar do trem com meu passaporte para receber o carimbo de saída do país. Do lado de fora o breu só era quebrado pelas luzes fracas e amarelas do escritório de imigração.
Com o carimbo estampado no passaporte, voltei ao trem e adormeci novamente. Sempre com a mochila presa à perna e coberto da cabeça aos pés. Mas não demorou muito para eu ser acordado mais uma vez. Agora tínhamos chegado à fronteira da Bulgária. Felizmente, dessa vez, o oficial levou o passaporte para ser carimbado e eu não precisei descer do trem.
Essas foram apenas duas vezes entre muitas que meu sono foi perturbado. Não sei dizer ao certo quantas vezes houve checagem de passagens durante a noite e o velho fumador era sempre requisitado – e interrogado.
Mas teve um momento em que cheguei à exaustão e dormi pra valer. Acordei quando o sol já havia nascido e tive uma ótima surpresa: estava sozinho na cabine! Até me diverti ouvindo Dragostea Din Tei (a versão original da Festa no Apê, do Latino, cantada pelos romenos do grupo O-Zone) e Tic Tic Tac (aquela do Carrapicho, alguém lembra?) numa versão búlgara, acredito eu.
Pois bem, bastou eu achar que tudo ia muito bem para ser abordado por um búlgaro. Ele chegou acompanhado por uma mulher e ambos estavam checando os bilhetes dos passageiros. Até aí nada de diferente, certo? Errado. Quando entreguei meu passe ele disse que estava faltando algo, não sei como entendi isso, pois ele só falava búlgaro. Entreguei-lhe meu bilhete (aquele que comprei em Istambul), confiante de que era aquilo que ele queria ver, certo? Errado. Também não sei como entendi, mas ele disse que aquele era apenas uma reserva para a cama.
Eu não sei se era mais difícil entendê-lo ou entender como funcionava a venda dos bilhetes. Pelo que entendi, eu deveria ter comprado, na Bulgária, um bilhete que cobrisse todo o trecho que passaria pelo país. Mas como eu poderia fazer isso de dentro do trem? Ninguém entrou pra vender, nem ao menos para perguntar. Todas as vezes que checaram minhas passagens estava tudo ok.
Enquanto ele tentava me explicar em búlgaro, a mulher que entrou com ele insistia em ler meu passe para ter certeza de que ele não era válido para aquele país. E no meio de tanta explicação e tanta gesticulação, a minha cabeça começou a latejar de dor. No começo da abordagem até cheguei a pensar que queriam uma propina, mas depois descartei essa possibilidade e vi que eles estavam realmente fazendo o correto, mas isso não quer dizer que eu estava errado, pelo contrário, eu não tive culpa nenhuma e muito menos má intenção – o que não fez muita diferença. No final da história eu tive que pagar €50 de multa – e ele fez a notinha e tudo. A multa ficou cara perto do preço que deveria custar uma passagem naquela região deserta da Bulgária. O que me deixou mais aliviado foi que ele saiu da cabine e minha cabeça foi, aos poucos, melhorando e, após as intermináveis 19 horas dentro da cabine do trem, cheguei a Bucareste, a capital romena.
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Este é o 39º post da série Mochilão na Europa I (28 países)
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